Conhecimentos sobre avaliação: em que nível você (sua equipe) está?
- SABELETRAS
- 13 de jan.
- 6 min de leitura
O desenvolvimento de conhecimentos e habilidades de avaliação no contexto de línguas ou na educação em geral depende de um processo de aprendizagem. Mas essa é uma aprendizagem necessária para que avaliações melhores sejam realizadas, o que também possibilita a melhoria do processo educativo. Nesse artigo, quero convidar o leitor a refletir um pouco sobre seus conhecimentos no campo da avaliação, ou ainda, caso você seja um gestor escolar, a pensar sobre como está o conhecimento de sua equipe de professores.
Para este objetivo, vamos utilizar o quadro abaixo, intitulado níveis de conhecimentos sobre avaliação. Esse quadro tem um valor heurístico, isto é, consiste em uma referência orientadora para a reflexão. É importante deixar claro que o quadro resulta das reflexões e experiências desse autor, e não em uma análise de dados de pesquisa. Mesmo assim, o leitor poderá explorar as ideias organizadas nos cinco níveis de conhecimento para fazer uma autoavaliação ou um avaliação de sua equipe de professores de línguas (ou da educação em geral) sobre seus conhecimentos e habilidades em avaliação. Os comentários têm o objetivo de esclarecer alguns pontos e auxiliar o leitor no processo de reflexão.
NÍVEIS DE CONHECIMENTOS SOBRE AVALIAÇÃO

Comentários sobre os 05 níveis de conhecimento em avaliação
1 - O nível intuitivo
Toda pessoa que passou pela escola têm uma noção sobre como se faz a avaliação da aprendizagem (provas, trabalhos, atividades, apresentações etc.). Ao escolher a carreira docente, o professor leva, mesmo que de forma inconsciente, esses conhecimentos para seu ambiente de trabalho. Com o passar do tempo, o professor passa a acumular também alguma experiência. Assim, o professor age com base nos modelos de seus professores e em sua própria prática. Contudo, esse conhecimento é muito intuitivo. Não há criticidade, nem teoria que oriente a prática. Nem mesmo a experiência acumulada é capaz de produzir uma prática esclarecida, pois trata-se simplesmente de se tornar mais hábil na repetição de modelos - e não em melhorar a prática de avaliar de fato.
2 - O nível básico
Aqui já se constata algum avanço. O professor nesse nível já sente um desconforto com sua prática avaliativa. Talvez ele utilize exemplos de questões de livros didáticos e outras fontes na esperança de produzir avaliações melhores, ou observe seus colegas experientes e procure reproduzir essas observações em sua prática. O desconforto pode ser resultado da percepção que suas ações não funcionam, ou não parecem justas. São muitas as dúvidas sobre como avaliar de forma adequada e sente-se uma corrosão das certezas diante de problemas isolados na hora de avaliar. No entanto, ainda não estamos diante de um conjunto de conhecimentos e habilidades embasados, e tampouco é necessário que haja uma consistência dessas reações, levando a um processo de progresso rumo a avaliações cada vez melhores. As dúvidas e certezas podem ir e vir, não garantido a superação das fragilidades. Mesmo assim, já estão presentes indícios de alguma criticidade, incômodo e algum reflexão e autoquestionamento sobre sua maneira de avaliar.
3 - O nível médio
Nesse nível, o professor já prática o questionamento de sua prática; identifica problemas na avaliação; faz usos mais conscientes de seus instrumentos e estratégias de avaliação e talvez já até mesmo utilize os resultados de forma um pouco mais produtiva para orientar o ensino. Esse professor não detém mais uma visão totalmente ingênua e intuitiva sobre avaliação e seus desconfortos com sua prática já produz alguma reflexão e mudança. Mas o repertório teórico desse professor é construído basicamente por meio de eventos acadêmicos - tais como as semanas pedagógicas da faculdade - ou profissionais, como no caso de formações oferecidas nas escolas públicas, secretarias de educação e escolas particulares onde ele ou ela atua. Pode também incluir o contato com alguns vídeos na internet e até algum material escrito presentes em blogues, plataformas de formação ou outros materiais impressos e digitais. Não há, porém, ainda qualquer contato com pesquisas sobre avaliação ou com leituras mais densas baseados nas teorias da área. A prática já apresenta alguma melhoria com base nos conhecimentos das formações e há indícios de desenvolvimento de alguma autonomia, mas essa ainda é limitada, pois não se traduz em um conhecimento abrangente dos princípios da avaliação e das teorias, e a experimentação na prática ainda é introdutória. Esse professor, por exemplo, não estaria ainda em condições de teorizar as questões de avaliação e a sua prática.
4 - O nível avançado
Os professores do nível avançado são conhecedores de diversas fontes teóricas da área e podem até estar familiarizados com algumas pesquisas no campo da avaliação. Eles/elas conhecem autores chave do campo e seus escritos e permitem que esse conhecimento influencie sua forma de avaliação. Suas atividades são caracterizadas pela postura consciente e crítica tanto em relação à teoria e a pesquisa, quanto em relação à sua própria prática e à de seus pares. Nesse nível de conhecimento, os professores são proficientes em desenvolver instrumentos e estratégias diversas de avaliação, talvez utilizando provas e atividades de melhor qualidade e também produzindo formas diferenciadas de avaliar. Alguns desses professores estão familiarizados e têm experiência no uso de portfólios e projetos e também utilizam os resultados da avaliação para melhorar seu ensino e para dar feedback para estudantes, pais e responsáveis, lançando mão de diferentes estratégias de devolução e discussão de resultados. São professores que sabem analisar criticamente os instrumentos de avaliação produzidos por outros, incluindo exames de larga escala ministrado por atores institucionais, governamentais (nos diversos níveis) e empresas. Também são capazes de desenvolver alguma pesquisa sobre avaliação, principalmente estudos de caso e pesquisa-ação com foco em seu contexto e com o objetivo de promover a melhoria da sua prática de ensino e avaliação.
5 - O nível expert
Professores que alcançaram expertise em avaliação são conhecedores da teoria, avaliam criticamente os instrumentos de avaliação - tanto os seus quanto os de seus pares, bem como exames de larga escala - conhecem pesquisas da área, fazem reflexão crítica sobre sua prática de maneira regular, sabem elaborar diferentes instrumentos e utilizar diversas estratégias de avaliação e sabem fazer uso consciente e prático dos resultados para melhorar o ensino e dar feedback a estudantes, pais e responsáveis. Além disso, esses professores estão familiarizados com princípios éticos e práticos da avaliação sendo conhecedores de diretrizes da área. São capazes de desenvolver pesquisas sobre sua prática e seu contexto e até mesmo de desenvolver instrumentos de avaliação para uso institucional (além da sala de aula). São também professores que alcançaram conhecimentos e habilidades para participar de pesquisas mais amplas - em nível acadêmico e institucional. Muitos desses professores tiveram diversas experiências profissionais que contribuíram para seus conhecimentos, tais como por participar em equipes de elaboradores e corretores de questão de exames de larga escala bem como em conduzir ou participar de projetos de avaliação em seus contextos.
Letramento em avaliação
Os conhecimentos e habilidades que os professores desenvolvem ao longo do tempo compõem o que se costuma chamar de letramento em avaliação (LA). O LA é importante para professores, gestores escolares, estudantes e seus responsáveis, e até mesmo para a sociedade de modo geral. Assim, existem diferentes graus de LA dependendo dos papéis sociais que os sujeitos assumem na sociedade.
O quadro que exploramos trabalha com cinco níveis de conhecimento. É importante observar, porém, que não se trata de classificar os conhecimentos dos professores em 05 gavetas. Dentro de cada nível, existe uma grande variação de conhecimentos, assim como pode-se considerar zonas de transição entre os níveis. O quadro é uma ferramenta para referência e não para classificação absoluta. O objetivo é que o leitor reflita sobre os conhecimentos e habilidades que já estão presentes em sua prática ou na de sua equipe. Desse modo, podem ser pensadas ações para aumentar esses conhecimentos e habilidades. Essas ações podem incluir o desenvolvimento de projetos, eventos e cursos, formação de grupos de estudo e até reuniões pedagógicas que incluam questões de avaliação em sua pauta.
Tais ações podem não só melhorar a qualidade das avaliações e do ensino. Podem também contribuir para uma comunicação mais adequada com estudantes e seus responsáveis. Além disso, ao perceber seu progresso, os professores vão ter um sentimento de realização e a sensação de que estão se desenvolvendo profissionalmente. Por fim, a própria escola pode se diferenciar ao buscar ações para melhorar a qualidade de suas avaliações e esta mudança vai se manifestar como satisfação da equipe de professores e dos gestores e credibilidade na comunidade local.
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