O direito ao feedback
- SABELETRAS
- 15 de fev.
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Devolutivas e feedback são direitos dos estudantes em qualquer nível e contexto de ensino.
Devolutivas e feedbacks se referem ao retorno que professores e outros agentes educacionais (incluindo estudantes) devem apresentar aos estudantes para lhes informar, orientar e motivar sobre seu progresso educacional. Trata-se do acesso à informação e ao olhar de seus pares ou professores.
Devolutivas em geral são comentários e pareceres sobre provas, trabalhos e atividades e constituem uma forma de feedback. O feedback, portanto, pode ser mais abrangente, integrando diversas atividades e aspectos gerais do desempenho ou progresso do estudante. Devolutivas e feedbacks podem ser apresentados de forma oral ou escrita, ou ambas. O feedback escrito oferece a vantagem de registrar as informações, ao passo que o oral ajuda a esclarecer pontos importantes da avaliação. Muitos professores têm o costume de fazer anotações e comentários nas provas e trabalhos dos estudantes, o que já constitui uma forma de feedback contanto que tais comentários sejam claros e específicos. É importante, porém, que os professores se certifiquem de que haja clareza e abrangência das informações não se negligenciando nada relevante. Assim, uma alternativa é prover esse feedback à parte por meio de registros escritos ou de forma oral, discutindo-se com o estudante os pontos importantes da avaliação ou de seu progresso documentado em diversos instrumentos avaliativos (provas, atividades, trabalhos, rubricas, registros de apresentações dos estudantes, anotações das observações dos professores etc.).
Em grandes turmas, também é comum se apresentar feedbacks coletivos, como, por exemplo, por se comentar e discutir provas e trabalhos. Esta opção deve ser feita somente com a observação do princípio ético de preservar a identidade e dignidade dos estudantes, nunca os expondo perante os colegas. A abordagem deve ser sempre respeitosa, positiva e elogiosa. Além disso, essa forma de retorno não pode substituir a atenção individualizada aos estudantes, visto que cada um terá suas particularidades, dúvidas e necessidades. Esta claro que os professores precisam reservar tempo em suas aulas para essa importante tarefa.
Mas por que se pode afirmar que o feedback é um direito?
Porque ele se relaciona com a própria essência da educação, que, posto de forma simples, consiste em ajudar as pessoas a se desenvolverem. O ensino por si não nos permite saber se tal desenvolvimento ocorreu; a avaliação por si não permite ao estudante saber em que precisa melhorar e quais são os seus pontos fortes. É o feedback que cumpre esses papéis.
Nesse sentido, é preciso entender o feedback de forma ampla, em suas diversas facetas. É feedback o retorno apresentado pelo professor. É feedback o retorno apresentado pelos pares, ou seja, pelos demais estudantes. É feedback o retorno de terceiros, tais como pais, gestores escolares, comunidade escolar de forma ampla e sociedade em geral. É podemos até considerar a autoavaliação como uma forma de feedback. O feedback alimenta (considere-se a origem da palavra com o sentido de retroalimentar) as possibilidades de melhoria.
Assim, é especialmente interessante quando o processo de ensino e aprendizagem adota uma perspectiva integrativa, na qual têm valor o feedback do professores, dos pares e do próprio estudante. Avaliações em grupo, por pares e autoavaliação cumprem um importante papel nesse sentido. Mas também é possível integrar a apreciação de sujeitos externos à sala de aula, como outros professores, coordenadores pedagógicos, colaboradores escolares, pais e responsáveis e representantes da comunidade. Imagine, por exemplo, quão rico poderia ser receber na escola um jornalista, um especialista em uma área, professores universitários, empresários, artistas e outros para avaliar as produções de nossos estudantes. Imagine convidar um poeta para assistir nossos estudantes declamar suas poesias ou de outros autores. Ou ter a presença de um cientista na feira de ciências da escola.
Evidentemente, o feedback e as devolutivas precisam apresentar algumas qualidades como:
clareza;
especificidade (identificação de aspectos específicos que exigem melhora ou representam pontos fortes);
respeito ao estudante e às suas produções;
positividade (o tom deve sempre ser o da busca pelo melhor e pelo potencial de melhora);
propositivo (visando o progresso futuro)
contributivo (evitando atitudes destrutivas e olhando para a produção com a intenção de promover sua melhora).
No caso dos professores, apresentar feedback envolve acompanhar as atividades dos estudantes de forma regular em sala de aula, auxiliando pares, grupos e estudantes individuais. Também inclui reservar momentos para analisar as tarefas de casa. Nessas situações, os professores precisam estar interessados em apontar os aspectos positivos das produções, identificar problemas e orientar sua resolução e fazer recomendações de caminhos potenciais que os estudantes podem seguir para produzirem trabalhos mais interessantes, mais completos e alinhados com os objetivos de aprendizagem e as preferências dos jovens. Esta postura exclui a pressa em verificar se as atividades foram ou não desenvolvidas e atribuir-lhes uma nota. O foco é na qualidade e conteúdo das produções, e não em sua classificação. Em um trabalho com escrita, por exemplo, os professores podem ajudar os estudantes a melhorar aspectos formais e discursivos de seus textos, a serem mais persuasivos, a desenvolverem uma pesquisa mais completa, a verificar e questionar suas fontes, a experimentar formas alternativas de escrever.
No caso dos estudantes, os professores podem fornecer-lhes rubricas, checklists, listas de critério para a avaliação por pares, em grupo ou a autoavaliação. Podem, ainda, envolver os estudantes na construção desses instrumentos de avaliação, o que por si só pode ser uma fonte rica de aprendizagem.
Se feito de forma contínua, o feedback também tornará mais fácil aceitar as fragilidades, as deficiências das produções dos estudantes e até mesmo que requisitos mínimos não foram alcançados. Na verdade, pode impedir o fracasso, já que promove a melhoria enquanto há tempo. Mas o mais importante é que o feedback constitui um aspecto essencial da avaliação formativa e revela a confiança no progresso e no potencial dos estudantes.
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