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O QUE AVALIAMOS QUANDO AVALIAMOS?

  • Foto do escritor: SABELETRAS
    SABELETRAS
  • 4 de jan. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 20 de dez. de 2024


A pergunta que dá título a este texto pode soar bastante estranha. Afinal, qual é o sentido de se perguntar sobre o que avaliamos? Quando um professor decide avaliar, ele ou ela não sabe o que está fazendo?


A pergunta poderia ser expressa em outros termos: qual é a natureza do objeto de nossas avaliações? Este tipo de reflexão nos leva a pensar de maneira mais precisa sobre nossas avaliações. Vale ressaltar que às vezes não temos clareza sobre o que estamos avaliando. Por exemplo, o que exatamente queremos quando avaliamos a escrita ou a leitura de nossos alunos?


Responder a essas perguntas pode nos ajudar a construir avaliações melhores. Ao avaliar a leitura, por exemplo, podemos ter em mente diversas coisas diferentes. Vamos imaginar que você estivesse participando como avaliador de um processo seletivo para escolher leitores para gravação de áudio books. Provavelmente, você iria se concentrar em questões de pronúncia, ritmo, entoação e respeito à pontuação. Ouvir os candidatos lerem em voz alta seria a forma mais adequada para verificar estes pontos.


Mas se o seu objetivo fosse avaliar estudantes da educação básica quanto à capacidade de compreender informações específicas de um texto ou identificar a ideia principal, provavelmente sua abordagem seria diferente. Você formularia perguntas para descobrir se estas capacidades existem e não exigiria dos estudantes a leitura em voz alta.


Estes exemplos deixam claro que a avaliação adequada exige definir claramente o que se pretende alcançar. Assim, é importante tanto saber o que se deseja avaliar quanto o melhor modo de fazer a avaliação.


De um ponto de vista filosófico, estamos diante de duas questões. A primeira é a questão ontológica da avaliação. Ela se refere a como entendemos o objeto de nossa avaliação. Por exemplo, ao avaliar a leitura, a questão ontológica vai nos levar a questionar o que é o ato de ler, o que este ato envolve, quais são seus elementos constitutivos. Ler é sempre a mesma coisa ou se diferencia de acordo com o contexto, a cultura, os objetivos etc.?


A segunda questão diz respeito à dimensão epistemológica da avaliação da leitura. Ela se refere à possibilidade de fazermos esta avaliação e ao melhor modo de fazê-la. Por exemplo, é possível avaliar a leitura de textos instrucionais, aqueles que apresentam orientações sobre como fazer algo? Em caso afirmativo, o que devemos procurar entender para poder afirmar que alguém entendeu um texto instrucional? Quais são as evidências que demonstram que alguém entendeu este tipo de texto? Uma pergunta como "qual é a ideia principal do texto?" seria suficiente para demonstrar tal compreensão?


Como o leitor já deve ter percebido, responder a estas questões ontológicas e epistemológicas contribui para um entendimento mais claro sobre qual é a metodologia de avaliação mais apropriada. Avaliar a leitura é obviamente diferente de avaliar a escrita, a fala ou a compreensão auditiva. Mas cada uma destas habilidades linguisticas também pode envolver aspectos distintos, cada qual exigindo uma definição própria da ontologia, da epistemologia e, consequentemente, da metodologia de avaliação.


Ao redigir este texto, pretendo incentivar o leitor a refletir sobre suas decisões ao desenvolver uma avaliação. Pode ser necessário se aprofundar um pouco na compreensão teórica das diferentes habilidades e fenômenos linguísticos (ex. diferentes gêneros textuais). No entanto, o professor que se engajar nesta tarefa estará no caminho de seu enriquecimento profissional e intelectual e certamente seu trabalho será coroado com uma compreensão mais profunda de sua prática, resultando em avaliações melhores.

 
 
 

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