POR QUE OS PROFESSORES DE LÍNGUAS DEVEM SE INTERESSAR PELO TEMA DA AVALIAÇÃO
- SABELETRAS
- 2 de jan. de 2023
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Atualizado: 20 de dez. de 2024

Crédito da foto: Green Chameleon / Unplash
A prática dos professores é repleta de momentos de avaliação. Seja por meio de atividades de avaliação formativa, seja pelo caminho mais tradicional da avaliação somativa, ainda amplamente praticada, a atuação docente não pode deixar de lado o tema da avaliação. Afinal, a avaliação tem um papel central nas atividades educacionais. É por meio da avaliação que os professores podem identificar os pontos fortes e fracos dos estudantes e adaptar-se às suas necessidades; é por meio da avaliação que os professores tomam decisões de aprovação que são constitutivas dos sistemas de ensino e esperadas por toda a sociedade; e não menos importante, a avaliação pode ainda ser instrumento promotor da aprendizagem.
A avaliação é de relevância em todo o campo da Educação. Contudo, existem aspectos específicos da avaliação de línguas que precisam ser levados em consideração. Apresento a seguir alguns desses aspectos e as razões acompanhantes para os professores se interessarem pelo tema da avaliação.
As habilidades linguísticas são específicas
Não se pode misturar as habilidades em linguagem com aquelas de outros campos do conhecimento. Isto não significa que não deva haver relação entre elas, mas, antes, que ao abordar questões de ensino e avaliação linguísticas, os professores precisam estar atentos as especificidades dos conhecimentos linguísticos, já que estes deverão permear todas as demais áreas. Pode-se esperar que os estudantes desenvolvam o senso crítico e a capacidade analítica em diferentes áreas do conhecimento, mas a capacidade de diferenciar argumentos principais dos secundários, encontrar informações específicas ou compreender a ideia geral de um texto, reconhecer o objetivo de um gênero textual, dentre outras, são o terreno privilegiado do professor de língua materna ou adicional. Mesmo que os professores de outras áreas também esperem estas habilidades de seus alunos, o trabalho de ensino e avaliação nesse caso deve ser a responsabilidade primária do professor de línguas, que, por sua vez, não abrirá mão de desenvolver as capacidades analíticas ou o senso crítico de seus alunos.
Os exemplos de habilidades linguísticas apresentados no parágrafo anterior se aplicam principalmente à leitura. As habilidades linguísticas podem incluir, também, a escrita, a escuta e a fala, cada uma das quais envolvendo um conjunto de ações cognitivas de natureza linguística. Além disso, existem diferenças quanto a se o ensino e avaliação se referem à língua materna ou adicional. Portanto, fica claro que o ensino e avaliação de habilidades linguísticas implicam aspectos específicos que os distinguem de outras áreas do conhecimento.
Tarefas específicas
A avaliação linguística envolve tarefas específicas. Mesmo em provas ou exames no estilo tradicional, podem haver diferenças. Embora seja possível, por exemplo, elaborar questões de múltipla escolha tanto para a avaliação linguística quanto para outras áreas do conhecimento, os formatos de questões para avaliar habilidades linguísticas podem ser bastante variados, e envolver questões de preencher, associações, cloze, c-test, e produções de texto. Podem também incluir produções orais avaliadas quanto ao desempenho linguístico e comunicativo, além do conteúdo.
Em projetos de avaliação da escrita não tradicionais, tais como o uso de portfólios, as atividades de ensino e avaliação podem incluir tarefas de reescrita desenvolvidas com o objetivo de melhorar aspecto gramaticais e de vocabulário, adequação ao contexto e ao gênero e estilo e organização retórica do texto. Não se deveria esperar que professores de outras áreas observassem tais aspectos, pelo menos não com o mesmo nível de conhecimento técnico. Assim, a avaliação linguística inclui atividades que não serão encontradas nas avaliações de outras áreas do conhecimento.
Além disso, as tarefas podem ir além do formato das questões. Elas podem incluir ações linguísticas de natureza discursiva e comunicativa específicas. Por exemplo, podem envolver a paráfrase ou resumo de textos, a retextualização - transformar um gênero em outro (Marcuschi, 2010) - organizar um texto em uma sequência apropriada, dar um título para um texto, produzir um texto a partir de outros etc. Estas são atividades de interesse do professor de línguas, que procura desenvolver nos estudantes habilidades que não são objeto de preocupação de professores de outras áreas.
Valor e limitação da abordagem generalista da avaliação educacional
O campo da avaliação educacional em geral tem muito a oferecer para os professores de línguas. Por serem educadores, as discussões comuns à educação oferecem um olhar mais qualificado, técnico e crítico, sobre as práticas de avaliação. Porém, também é necessário que os professores de línguas conheçam questões específicas da avaliação em sua área, inclusive considerando-se as similaridades e diferenças da avaliação de língua materna, de língua adicional ou mesmo de contextos bilíngues.
Sendo assim, o interesse por avaliação precisa fazer parte do repertório do professores de línguas, assim como a busca por conhecer as metodologias, os recursos de ensino, as atividades lúdicas, o diálogo entre língua e literatura (e outras artes), e o desenvolvimento da criticidade dos estudantes.
Prof. Me. Newton Paulo Monteiro
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